sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Dado primeiro passo para a Comissão da Verdade


“Comissão da Verdade: o primeiro passo”

Por Emir Sader, em Carta Maior


“Foi bonita a festa, pá!” Podemos estar contentes com a aprovação da Comissão Nacional da Verdade pela Câmara de Deputados ontem. Consagrou o método de combinar acordos políticos com mobilização popular. E esta demonstrou como os artistas e intelectuais continuam demonstrando uma grande sensibilidade para as maiores causas nacionais.

O que conquistamos foi a aprovação da Câmara e, quando tivermos a do Senado, teremos conquistado apenas um passo inicial: a construção de um espaço de busca da verdade sobre o que ocorreu durante a ditadura militar e a versão oficial do Brasil sobre o que ocorreu naquele período. Foi uma construção política, que abre um importante espaço de disputa. Agora se trata da aprovação no Senado e da composição da Comissão.

O projeto requer reparos, de vários pontos de vista, mas uma parte das objeções levantadas não tem fundamento. O primeiro problema é a extensão no tempo, retrocedendo a 1946. É certo que essa é uma data de origem das articulações golpistas que desembocaram em 1964, depois de várias tentativas de dar o golpe - 1954 e 1961, entre outras. Foi naquele momento que os oficiais das FFAA regressando da participação na guerra na Itália, passaram a ser influenciados diretamente pela oficialidade norteamericana. Em concreto, Golbery do Couto e Silva – que posteriormente seria peça chave na articulação do golpe e em governos da ditadura – fundou a Escola Superior de Guerra, desde onde se difundiu a nefasta Doutrina de Seguranca Nacional, que orientou as ditaduras do continente, no espírito da guerra fria, conforme a visão norteamericana.

Porém, as violações dos direitos humanos, como as entendemos, se concentraram claramente – tornando-se uma política de Estado – a partir de 1964 e ao longo de todo o período ditatorial, sobre o qual a Comissão deveria concentrar-se. Ainda mais que ela não tem uma duração muito longa – 2 anos – e nao dispõe, pelo menos inicialmente, de recursos próprios para trabalhar. Mas isso a Comissão pode redimensionar no seu programa de trabalho, para não desconcentrar-se do centro mesmo das suas investigações.

Quanto ao acesso a documentos e informações, a Comissão terá amplos direitos de requisitá-los de órgãos ou entidades do Poder Público, mesmo os que são classificados em qualquer grau de sigilo. Além disso, a Comissão poderá convocar, de forma obrigatória, as pessoas para prestarem esclarecimentos sobre as violações dos direitos humanos. Uma emenda posterior ampliou ainda mais as fontes de que vai dispor a Comissão, porque agrega que qualquer pessoa que considere que tem informação relevante a prestar para esclarecer essas violações, pode solicitar ser ouvida pela Comissão.

Quanto aos recursos, a Casa Civil da Presidência dará o suporte técnico, administrativo e financeiro necessários para as atividades da Comissão.

Em relação à objeção do número relativamente limitado de membros da Comissão – sete -, e’ preciso levar em conta que, além do fato de que serão criados 14 cargos em comissão para assessor os trabalhos da Comissão, ela se apoiará em grande quantidade de entidades que têm desenvolvido, há muito tempo, pesquisas sobre o tema.

Mas mesmo em comparação com Comissoes de outros países, constatamos que no Chile ela teve 8 membros, na Argentina, 13, na Guatemala e em El Salvador 3 e no Peru, 12. O que revela que a composição brasileira se ajusta ao número de membros dos outros países.

Quanto aos critérios da nomeação dos seus membros, foram aprovados critérios que excluem a possibilidade de participação de pessoas com cargos políticos públicos, com mandatos ou que tivessem estado diretamente vinculados ao fatos analisados.

Quanto à duração, a Comissão poderá dispor de grande quantidade de pesquisas e acervos acumulados nas ultimas décadas, seu trabalho não começará do zero.

Assim, o que foi conquistado é um espaço para a busca e sistematização das informações que permitam esclarecer, com o máximo de rigor possível, as violações dos direitos humanos durante a ditadura militar e formular a narrativa oficial do Estado brasileiro sobre a ditadura militar que vitimou o país de 1964 a 1985. Um primeiro e grande passo, que rompe a inércia em que estávamos antes dessa iniciativa. Só podemos saudá-la, apostar no seu trabalho e mobilizar-nos para que ela cumpra da melhor forma possível seus objetivos, assim que for aprovada pelo Senado e sancionada pela Presidência.

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domingo, 11 de setembro de 2011

"Povos indígenas e camponeses têm soluções para enfrentar mudança climática"


“Via Campesina convoca organizações sociais a exigirem justiça climática na COP17”

Por Karol Assunção*, em Adital

"Os povos indígenas e os camponeses têm soluções para enfrentar a mudança climática!” Isso é o que afirma a Via Campesina em uma convocatória para mobilização mundial. A ação, promovida pela organização camponesa e pelo Movimento dos Sem Terra da África do Sul, acontecerá no marco das discussões da XVII Conferência das Partes (COP17) da Convenção sobre Mudança Climática das Nações Unidas, marcada para ocorrer entre os dias 28 de novembro e 9 de dezembro em Durban, África do Sul.

A ideia, de acordo com o documento, será reunir camponeses e movimentos sociais de várias partes do mundo na cidade sul-africana para exigir justiça climática. Durante os dias da COP17, as organizações sociais realizarão atividades e manifestações relacionadas à temática. Exemplo disso será a II Assembleia de Mulheres Rurais do Sul da África, que ocorrerá de 30 de novembro a 2 de dezembro.

No dia 3 de dezembro, a Via Campesina, juntamente com outras organizações sociais, promoverão o Dia de Ação Global com o objetivo de exigir justiça climática. Dois dias depois, realizarão um Dia Especial pela Agroecologia e pela Soberania Alimentar.

A intenção será rechaçar as negociações tomadas nas edições anteriores da COP e pressionar os governos para que considerem a soberania alimentar como solução para mudança climática. "Converteram as negociações sobre o clima em um gigantesco mercado”, considera Via Campesina em relação às discussões dos governos durante as Conferências.

De acordo com o documento da organização, a maioria dos governos participantes da COP16, realizada no México, - com exceção da Bolívia - se reuniu apenas para negociar com empresas multinacionais "falsas soluções” para a mudança climática, como a Redução das Emissões derivadas do Desmatamento e da Degradação Florestal (REDD) e a utilização dos organismos geneticamente modificados (OGM).

"Nossos governos têm condenado conjuntamente (e em um contexto de mercado) a África e o sul da Ásia a uma incineração virtual, cujas primeiras vítimas são os camponeses destes continentes, dado que as temperaturas crescentes criam um ambiente inclusive mais hostil que o habitual para os cultivos, o gado e os seres humanos. A maioria dos governos ignorou os Princípios de Cochabamba, que estabelecem um marco de atuação claro para impedir o aquecimento global e proteger a Mãe Terra”, comenta.

Segundo o comunicado de Via Campesina, pelo menos 44% de todas as emissões de gases de efeito estufa são geradas por conta do sistema alimentício atual. Contribuem para isso: o transporte de alimentos que poderiam ser produzidos localmente, o uso excessivo de petróleo e substâncias químicas, as monoculturas e os desmatamentos.

De acordo com a organização camponesa, tais emissões de gases poderiam ser reduzidas consideravelmente a partir de uma mudança na forma de produzir os alimentos, baseando-se na soberania alimentaria, ou seja, através de práticas sustentáveis, com produção local e diversificada.

Para isso, Via Campesina indica que seguirá com ações de fortalecimento da agroecologia e na luta pela reforma agrária e contra a inclusão da agricultura camponesa nos mecanismos de financiamento de carbono.

"Daremos voz aos pequenos proprietários de explorações agrícolas e camponeses para que estejam presentes com outros setores da sociedade civil na COP17 de Durban e no Rio+20 no Brasil e mostrem nossa oposição às falsas soluções contra a mudança climática e peçam a adoção dos Princípios de Cochabamba. Insistiremos na Agricultura Sustentável realizada por Pequenos Produtores e na Soberania Alimentar como as soluções mais importantes para a mudança climática”, finaliza.


* Karol Assunção é jornalista da Adital.

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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Mentiras sobre o trabalho escravo no Brasil – 6


Mentiras mais contadas sobre Trabalho Escravo - continuação

Série de mentiras sobre o trabalho escravo no Brasil, enumeradas pela ONG Repórter Brasil a pedido da Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) e publicadas pela Agência de Notícias Repórter Brasil.

Mentira:
O trabalho escravo urbano é do mesmo tamanho que o rural.

Verdade:
O trabalho escravo urbano é menor se comparado ao do meio rural. A Polícia Federal, as Delegacias Regionais do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho e o Ministério Público Federal já agem sobre o problema.

Vale lembrar que a escravidão urbana é de outra natureza, com características próprias. Portanto, pede instrumentos específicos para combatê-la – e não adaptações do que está sendo proposto para a zona rural. O principal caso de escravidão urbana no Brasil é a dos imigrantes ilegais latino-americanos - com maior incidência para os bolivianos - nas oficinas de costura da região metropolitana de São Paulo. A solução passa pela regularização da situação desses imigrantes e a descriminalização de seu trabalho no Brasil.


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